Crónica de um entrevista de trabalho (ou emprego
se preferirem). E digo isto porque procuro trabalho, não emprego. Isso já
tenho, estou desempregado e recebo algum dinheiro ao fim do mês sem fazer nada
(minha definição de emprego).
Era para não escrever sobre isto, mas
tornou-se tão surreal que não resisti. Vamos factos: para aqueles que não sabem
eu estou desempregado. Para aqueles que me conhecem sabem que estou a passar um
suplicio. O suplicio de não fazer nada…
Entre respostas a anúncios e envio de currículos,
às tantas aparece-me num site da especialidade um pedido de pessoal para
abertura de um novo escritório/filial. Ora nem mais, eu que já o fiz pelo menos
duas vezes toca de responder com envio de CV actualizado. Com carta de
apresentação a demonstrar todo o interesse.
Na passada quinta-feira, recebo um telefonema
a marcar entrevista já para o dia seguinte às 11h30, na Amadora. E eu que logo
que nesse dia tinha que ir me apresentar a um pedido do IEFP na Expo. Bem lá
consegui ir à Expo e estar na Amadora 10 minutos antes da hora marcada.
Fui muito bem recebido por uma senhora que me
informou que na empresa trabalhava somente com promoções, ou seja faziam “uma
favor” ao cliente de terem produtos e oportunidades a bom preço. Nomeadamente
produtos da Disney, da Warner etc…
Mais me adiantou que realmente procuravam
pessoas dinâmicas e que caso aceitassem a minha candidatura (seria informado
via telefone nesse mesmo dia à tarde), teria que passar um dia com uma pessoa
da empresa para ver o tipo de trabalho que desenvolviam. Que aliás não tinha
nada a haver com vendas porta a porta mas sim com a apresentação das suas
promoções. Até aqui tudo bem, porque concordo plenamente que se alguém se
candidata a um lugar de responsabilidade numa empresa a nível administrativo e logística
deve “sentir na pele o que a casa gasta”.
Nesse mesmo dia ao fim da tarde recebi um
telefonema a me dar efusivamente os parabéns, uma vez que tinha sido
considerado para passar à segunda fase, e que desse modo me deveria apresentar na
segunda-feira (hoje dia 25) na empresa de gravata casaco e calça social (esta
não percebi na altura, e se me pôs de pé atrás, deixei andar, até porque os
meus filhos me disseram que não devia desistir à primeira).
Ora, hoje saí de casa às 8h00 da matina, apanhei
o comboio para a Amadora e cheguei ao dito escritório um pouco antes das 9h50
(aliás, um pouco antes). Vá lá ainda deu para ouvir palmas, e vivas e risadas,
tipo IURD, não sei estão a ver. Tornei a ficar meio desconfiado, mas como
estava com a ideia do “sentir na pele”, vamos em frente.
Entretanto sou chamado e apresentado à colega que
seria a minha mentora durante o dia, tendo eu o cargo de mero observador e
tendo só que apontar alguns números: numero de clientes contactados, clientes
com produto não mão (mau!) e fechos (ui!).
Antes que me esqueça, produto em promoção.
Adivinhem? Não? Ok, genéricos, não de medicamentos, mas de perfumes a 10€ em
frascos de 100ml. Estão a ver? Não? Tipo “Amour, Amour” da Cacharel com o nome
de Cupido. E mais umas coisas que já me perdi.
Arranquemos então em direcção à Moita (ainda
por cima à Moita!) com o porta bagagens cheio de “parfumes” e com troleys para
andarem pegados a nós.
Resultado. Que se faz? Venda porta a porta.
Desculpem, venda não, apresentação da promoção (se o cliente quer tudo bem, se não quer também tudo bem). E
pensavam vocês que era em lojas da especialidade? Pois, eu também, mas não.
Tudo o que foi bares, restaurantes, padarias, cabeleireiros, tribunais, pessoas
na rua, e eu sei lá mais o quê…
E o menino Bernardo de fato e gravata (a calça
social já não sei) pela Moita fora a apresentar a dita promoção. Sim que não
são vendas, mas que se entregam os perfumes em troca de 10€, não tenham
duvidas. Pois, promoção.
Antes de mais e que alguém fique melindrado,
digo desde já que tenho muito respeito por esta pessoas que fazem este tipo de
trabalho.
Agora responder a um anuncio para a admissão
de pessoal para a abertura de um novo escritório/filial, conversão comigo sobre
a minha vida profissional, ver o meu CV e ainda me ligar efusivamente a me dar
os parabéns que passei à segunda fase é obra!
Conclusão a que cheguei. Até nos pedidos de emprego
há publicidade enganosa. E explico porquê. Tinham-me dito que ao fim do dia eu
teria que responder a um questionário e que seria avaliado pelas minhas “mentoras”.
Ora, quando chegamos à Amadora o diálogo foi mais ou menos assim:
- Então Sr. Bernardo (depois de eu passar o
dia a dizer que era Bernardo e me chamarem Sr. Alexandre) já está despachado.
Pode ir embora.
- Mas disseram-me que eu teria que responder a
um questionário!
- Isso seria se tivesse interessado (lá nisso
acertou na mouche). Mas não está pois não?
- Eu respondi a um anuncio para abertura de um
novo escritório/filial!
- Ah, mas é para comerciais!
- Pois, não era isso que dizia. Então até a
próxima.
- Até à próxima.
Resta-me dizer que esta empresa fui fundada
por um senhor que ao que parece agora é o mais rico de Portugal e que há 20 ou
30 anos andava no Canadá a vender facas com neve pelo joelho (news flash: no
Canada andar com neve pelo joelho no inverno penso que é a mesma coisa que
andar com sol no verão de Portugal, mas vocês lá sabem).
E disto se faz Portugal.
Se querem vendedores de rua e porta a porta,
digam de uma vez!
Sem comentários:
Enviar um comentário